Não tenho muito o que escrever esses dias, a vida tem sido corrida, a faculdade drena energia e o que me sobra eu gasto saindo pra festas e bares. Lá eu bebo e danço e conheço novas pessoas e sinto que é disso que eu precisava. Não quero relacionamentos agora, é uma época complicada da minha vida na qual eu vou atrás de pessoas novas para coisas que não duram mais de um mês e não se atribui nome. Mantenho uma persona em público quando sei que sou diferente por dentro e a erosão de todo o processo é complicada. Penso em começar a tomar hormônios sem avisar pra ninguém, penso em mudar de cidade pra um lugar maior, mais populado, aonde ninguém sabe meu nome e nenhuma rua me assombra com memórias do passado. Essa cidade é muito pequena e eu já vivi o suficiente; chega a ser estranho, Recife é maior que Campina Grande e ambas não são o suficiente pra mim, pra a ideia de um anonimato que eu prezo tanto. Jogo bola com meus amigos e penso se devo tirar a camisa, se manter-la é uma proteção, se a ideia de ser percebida é ideal de fato. Hesito mas gosto quando me chamam de Helena, hesito mas acho legal quando usam pronomes femininos comigo, hesito mas toda vez que pego um engarrafamento penso se poderia simplesmente entrar na fármacia e comprar hormônios, se poderia simplesmente transicionar e fodase as condições ao meu redor, fodase a segurança e as expectativas, fodase o que eu tiver que esconder enquanto paro de me esconder. Penso e penso e penso e fica por isso. Talvez seja hora de agir, eu não quero mais ser uma tragédia aguardando acontecer.
É estranho, pela primeira vez desde meus 14 anos eu consigo realmente me imaginar vivendo a vida. É estranho ter que conviver com a ideia de não ser mais maluca, de querer viver, de por breves momentos pensar como uma pessoa normal pensa.
Essa cidade é pequena demais, eu quero largar tudo e ir pra algum lugar aonde ninguém saiba meu nome.
Romantizando o ato de desaparecer. Tive sonhos febris e em todos eles ela estava lá, acho que tem pessoas na nossa vida que nós nunca superaremos.
Desde sexta que eu não falo mais com meu ficante. Não tem nenhum motivo específico eu só me esqueci de responder ele e agora não sei o que falar, qual justificativa dar, coisa do tipo.
Existem motivos pra eu querer terminar com ele mas não queria terminar dessa forma tlgdo, acho q vou mandar uma mensagem pra ele eventualmente.
Nada pra escrever esses dias.
"This story is getting old/ The heartbreaker with a heart of gold"
As vezes é impossível não contar os dias pra o fim de um relacionamento. Quando eu comecei a sair com V. eu já sabia que não iriamos pra frente, eu já tinha começado a escrever o manifesto e me manter presa a uma percepção por alguém que eu pretendia amar seria a pior forma de tortura a qual eu poderia me submeter. Ontem ele me mandou uma mensagem dizendo que estava gostando de mim. Realmente gostando de mim. Eu torci pra que não fosse verdade, que ele na verdade só me visse como um pedaço de carne mesmo que isso seja o oposto do que eu deseje internamente. A ideia de ele amar a persona que eu apresento externamente é torturante porque ele não sabe da verdade de quem eu realmente sou. E honestamente, eu não quero que ele saiba. Eu só quero terminar as coisas de uma maneira pacífica.
Essa situação toda é paia. Ele gosta de uma persona, eu vejo relacionamentos como coisas com data de validade, nós nunca dariamos certo, ele é gay e eu sou moça. Eu já entrei nessa sabendo que ia terminar cedo, só não esperava que fosse tão cedo (só transamos uma vez).
Eu escrevo sobre o que eu vivi, e tendo sido maluca por 19 anos, não tem como não escrever sobre isso. Bizarro.
Eu quero um amor que me faça sentir como se estivesse caindo da sacada, você passa os braços por cima de mim, estamos nus na sua cama, são 9 da manhã do dia seguinte e eu tenho que voltar pra casa. No caminho de volta eu não sinto nada, talvez eu não tenha sentido nada o tempo todo, pra mim tudo não passou de um ato pra passar o tempo, sem significado porque eu não te amo, porque não sei se um dia amarei. Eu me apaixono o tempo todo, botando espectativas nas pessoas enquanto elas põem suas expectativas em mim; e que hipócritico, ter o peso das expectativas me assombra. Eu vou pra sua casa toda sexta feira, durmo ai com essa mesma frequência, meus pais se preocupam, eu me preocupo por motivos diferentes.
A longo prazo não temos futuro, eu sou uma moça – bela como uma batida de carro – você é um homem que me vê apenas como homem. Gosto de conversar contigo, gosto de sair contigo, gosto da nossa química, mas além de um passatempo o que você é para mim ? Talvez seja frio da minha parte ser assim, colocar expectativas enquanto escondo minha verdadeira identidade em prol de um passatempo, porque eu gosto do que faço.
As vezes eu sinto falta de alguém que possa me orientar a respeito dessas coisas.
A sensação que eu tenho é que cada pessoa que entrou na minha vida me alterou a um nível molecular e mesmo assim a cada 4 pensamentos todo 3º é sobre ela. Queria saber o que ela diria se nós nos encontrassemos hoje mesmo sabendo que não seria nada de positivo.
Em outras notícias : trabalhar com minha ex fuccckkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkk !!! Eu vou me manter profissional e não quero nenhum tipo de intimidade com ela de novo, as vezes eu me pego pensando no que nós vivemos e como talvez eu não colaria com ela hoje em dia, meio estranho pensar assim, que uma pessoa que eu amei tanto em detrimento de mim mesma pode ser alguém que hoje eu nem quero contato.
Tenho pensado sobre meu ficante atual hoje em dia, que as pessoas saem muito rápido da minha vida e que talvez eu já tenha me acostumado com isso. Imagino quando que ele vai sair da minha vida e se ele voltaria, o que é tudo muito bizarro já que mal vai fazer 1 mês que estamos saindo. Na corte eu me declaro culpada pelo crime de antecipar muito as coisas, mas ao mesmo tempo que me pergunto sobre como iremos terminar também penso que AINDA nem transamos, que isso é tipo um recorde pra mim e sobre o que isso tem a dizer sobre mim.
Estou cada vez querendo me distanciar mais de um amigo específico. Não acho que dá mais pra ser próximo dele como eu era antes o que é uma merda, porque eu dcostumava dar muito valor a amizade desse mano. Porra.
Fui chamada pra entrevista de estágio !!! Acabou o arco de desempregada.
Me chamaram pra um encontro de jovens, não acho que vou aceitar.
O que eu achei mais curioso sobre isso é a forma como me chamaram e quem fez o convite. "Não é cristão em si, é mais sobre você se encontrar." isso pra mim soou particularmente estranho porque o convite veio de uma das únicas pessoas pra quem eu fui honesta sobre como eu me sinto sobre mim mesma, e outra coisa, a pessoa que me convidou foi uma amiga lésbica que atualmente tá pegando um cara. Eu sou 100% a favor da pessoa se descobrir e de entrar em contato com o eu interior dela, só que tipo: eu não acho que a igreja evangélica seja aonde isso vá acontecer pra nós LGBT.
Tive uma bad trip de maconha meu Deus foi uma experiência assustadora.
Amanhã vou pra uma festa com meu ficante, ele vai me apresentar pras amigas e eu acho que isso é um grande passo no nosso relacionamento. Não contei pra ele que sou trans e não pretendo por enquanto, é estranho porque eu sinto como se tivesse omitindo informação e é bizarro pensar que quando eu conte isso pra ele talvez eu tenha que terminar o relacionamento por medo de que ele nunca me veja como uma mulher. Eu queria que isso durasse mais que 3 meses, gosto muito dele e pensar em terminar as coisas não me faz bem.
Quero fazer uma tatuagem de cybertribal.
Hoje meus pais queriam sair pra almoçar comigo, eu acho meio estranho, me sinto tão desconectada da minha familia. Com eles toda vez reforçando através de micro-agressões que nunca poderiam me aceitar pelo que eu sou. Que pra eles eu sempre serei apenas uma ideia a ser moldada de acordo com o que eles pensam.
Hoje eu tirei um tarot perguntando sobre minha transição de gênero e a carta que saiu sobre a realidade foi A Torre (invertida!). Entendo o tarot não como uma leitura de futuruo mas como um segundo ponto de vista sobre as coisas. A ideia de que transicionar de gênero vai ser uma tarefa herculeana não me é novidade mas tipo, eu gostaria que alguém me disesse que as coisas vão ficar tudo bem. Que de alguma forma eu vou conseguir manter minha residência enquanto sou eu mesma. Sei lá.
Ontem de noite eu anunciei pros meus amigos que estaria usando o nome Helena a partir de agora, queria que usassem pronomes femininos comigo também mas é díficil porque é uma tarefa maçante mudar de pronome de acordo com quem está perto de mim.
Muitas coisas pra me deprimir. Eu gosto do menino com quem estou saindo, talvez até tenha um futuro com ele, mas o pensamento que assola minha cabeça é a ideia de que nunca poderiamos funcionar
juntos por um motivo muito simples: ele é gay e eu sou trans.
Me deprime o quanto eu gosto dele porque toda vez que nós nos falamos eu sou lembrado de que ele me vê como um homem, que eu sou forçado a me apresentar dessa forma por motivo de segurança. As vezes o
medo de ser percebido inibe a gente de ser como nós gostariamos. Eu queria usar roupas femininas e que se referissem a mim como Helena mas sou impossibilitada disso. Penso honestamente em dizer isso pros
meus amigos mas me parece maçante e deprimente a ideia de que no privado eles me chamem como eu gostaria e na frente de todo o resto do mundo nós termos de manter essa farça.
"Farça" acho que essa é a palavra chave dos últimos dias. Minha casca-de-bala não leu meu manifesto e meu mano Cones também não, creio eu, então eu tive que manter uma aparência deceptiva pra os dois. E isso
me queima por dentro. Não me é novidade esconder quem eu sou de verdade dos meus pais, mas antes eu podia pelo menos manter algo discreto. E quando eu começar a me vestir como eu quero ? E a voz que eu tenho que treinar?
Tantas coisas que sei lá.
Eu queria que as coisas fossem mais fáceis.
Eu tô gostando de ter um blog, de ter meu próprio espaço. Senti o bluesky muito alienador e no twitter muita gente sabe da minha vida, então é interessante essa nova dinâmica.
Falei com minha casca-de-bala sobre ser trans. Foi uma boa conversa. Acho que finalmente decidi um nome : Helena.
Tem até uma certa sonoridade, "Oi eu sou Helena Tarradt". Brincadeira, não acho que vá manter o sobrenome,
qualquer sobrenome. Como que se vive sem se ter um sobrenome ? É tão estranho a ideia de jogar fora parte da minha
identidade em prol da minha própria identidade, quase paradoxal.
Queria poder transicionar logo, que pudessem me chamar de Helena em público sem ter medo de retaliação.
Enfim.
Atualmente meu hiperfoco é em Joana D'Arc, então eu tô lendo e assistindo bastantes coisas sobre ela. Essa semana eu não tenho psicólogo.
Tõ tomando codeína pra lesão na adutora e tá sendo meio que um pesadelo honestamente. Meus amigos falam pra eu ter cuidado pra não me viciar mas tipo, esse remédio me deixa feito um zumbi e isso é a forma que eu mais odeio me sentir.