Bote as mãos no meu pescoço como se fossem cordas, seja meu juri, juiz e executor, quero estar pra sempre a sua mercê. Faça de sua boca meu tumulo e me enterre junto de todas as mágoas antes que o karama me busque. Sim, o karma, eu sei que não sou santa mesmo que aspire a ser uma, me vista de branco e diga que o que corre nas minhas veias é sangue de virgem. E minto, minto que não sinto, sinto que não minto logo deve ser verdade.
Pego minhas roupas do chão, você ainda me vê do mesmo jeito depois disso ? Ou eu fui só mais alguém que você colocou no currículo ? Depois de uma certa de quantidade de camas e beijos e noites em claro você passa a se sentir um pedaço de carne, um autômato de nervos e ossos, você se olha no espelho e não vê a si mesma mas sim uma paródia. Existe uma ideia dentro de mim, de uma santidade a qual eu devo almejar, como se minha autodestruição e hábitos insantificaveis fossem me levar a algum tipo de elevação superior; como se eu cavasse um túnel em busca de algum tipo de luz no fim dele. Ele faz algo por mim e eu digo que achei lindo, ele pergunta "Lindo como você" e eu não digo, mas penso, que não. Eu sou linda como uma batida de carro.
Meu corpo não passa de uma carcaça de carro tirada diretamente do ferro-velho rasgando as estradas nacionais a 150km/h. Eu sou um avião em queda livre e cada movimento, cada fala, cada texto, são mensagens gravadas na minha caixa-preta. Você olha nos meus olhos por tempo o suficiente e se sente tragado, eu desvio a vista porque me sinto observada. Eu vejo meu cadáver na televisão e me reconheço mais como corpo do que quando me olho no esppelho. Talvez eu tenha morrido a anos e seja só um espirito assombrando a terra. Um espirito de atitudes e expectativas, de reações sem ações, talvez eu esteja fadada a não ser mais do que uma tragédia na televisão.