Um tempo atrás se você me perguntasse o meu maior problema eu diria que eu amo demais. Quando perguntado em uma entrevista se já sofreu por amor, Pablo Neruda respondeu que "Não o suficiente.", vamos apenas dizer que por anos esse foi meu lema, ainda não tinha sofrido o suficiente por amor porque em meio a grande indiferença do universo, após receber mais porradas do que carícias a minha vida toda eu achei no amor idealizado uma escapatória, uma justificativa, um motivo. Foi em meio a esse contexto que eu conheci M.
Não exatamente a conheci, já eramos amigos, já conviviamos, mas foi em meio a uma dessas porradas e idealizações amorosas que eu de fato conheci ela, ficamos próximas, eventualmente namoramos. Fazia de tudo por M, minha vida essencialmente girava em torno dela, tinha esperanças que poderia me fornecer o amor que eu tanto idealizava, amor o suficente pra me salvar. Mas bom, nem mesmo um amor incondicional poderia me salvar e o amor de M certamente não era incondicional. Sei que ela me amou porque dói demais pensar o contrário, sei que não era incondicional porque eu descobri as condições bem rápido.
Constantemente forçar seus próprios limites tem um peso naqueles ao seu redor, nunca me dei conta disso porque estava tão imersa em minha miserabilidade que nunca tinha percebido. É quando saímos do nosso mundinho e vemos como que as ações afetam os outros que percebemos que não é um amor que irá nós salvar, que irá me salvar.
Mais uma vez eu me sento nas escadas do prédio de madrugada e acendo um cigarro. Penso em rezar mas não acredito em nenhuma força maior. Mando mensagem pra ela. O álcool não me trouxe a felicidade que eu esperava, é meu aniversário e ela não quis sair comigo, é meu aniversário e a festa que eu fui me deixou mais deprimida do que antes, é meu aniversário e eu seriamente contemplo se vale a pena a idade que vem, se será assim pra sempre, é meu aniversário e a lua ilumina o céu sem estrelas, a fumaça do cigarro subindo pra se juntar às nuvens negras. Me queimo com o isqueiro e me sinto mais viva do que nunca. Meu problema é que estou lentamente percebendo que não é amar demais o problema, e sim que o grande cerne da questão é buscar no amor uma forma de me salvar, como se as carícias fossem de alguma forma cobrir todos os machucados eternamente na minha pele. Ela não me responde.
Mais uma vez o amor falhou em me proporcionar o que eu buscava. Ao mesmo tempo que sou Eva eu também sou a Serpente, sei que meus amores acabaram por culpa exclusivamente minha em sua maioria, da mesma forma que eu sou a vítima sou a perpetradora. Buscar completude em amores e relacionamentos é como comprar um revólver, encher o tambor e colocar ele na boca, vivendo em um estado constante de "Poxa espero que ele não dispare".