Finalmente entendi porque The Smiths me pegava tanto quando era adolescente e hoje já não tem o mesmo efeito. Em Still Ill a música decide abrir com "I decree today that life is simply taking and not giving/ England is mine, it owes me a living" e minha tese toda se baseia nisso. Desde seu primeiro albúm de estúdio The Smiths fala sobre a fantasia de imaginar pra si uma vida que não é propriamente sua. Neste fragmento o eu-lírico fala que a vida está tirando mais do que dando pra ele, como se ele merecesse mais do que o que é oferecido. "England is mine, it owes me a living" é justamente isso, meu país me deve uma vida (embora "living" também possa se referir ao "ganha pão"). Um eu-lírico que grita para o mundo que tem que haver mais na vida do que isso, que o que o foi apresentado até agora não é o suficiente. Existe reclamação mais condizente com a vida de um adolescente do que isso ? Porque pelo menos minha adolescência se resumiu a esconder quem eu era e sonhar com uma vida que naquele momento não era minha. "And when a train goes by/ It's such a sad sound" em Nowhere Fast é a ideia de que há uma fuga para as condições atuais do eu-lírico, mas essa fuga possível não se apresenta acessível — caso contrário, o barulho do trem não seria um som triste. A grande coisa que a vida adulta me ensinou foi que é obrigação de todos tomarem as rédeas do próprio destino, e agora ao invés de fantasiar sobre a vida que eu tanto queria eu apenas vivo essa vida. Quando a imersão na própria melancolia e impotência passam a ser sintomas mais do que vontades é quando você percebe que amadureceu.