Eu te escrevi montes de poemas, aposto que você nem sabe disso.
Todos eles em páginas que ninguém vai ler a esse ponto, porque eles não são mais pra ninguém. Eu te contei que escrevia, você me perguntou se um dia poderia ver esses textos, eu disse que talvez um dia. Não disse que ficava insegura com a minha escrita, que era uma parte muito vulnerável de mim que eu tinha medo de mostrar pros outros, medo do julgamento, como se por verem o funcionamento interno da minha mente eu perdesse a mágica, ou como se por me mostrar vulneravel pudessem me açoitar de formas mais pessoais. Teve uma garota que eu amei, não lembro mais a cor dos olhos dela e nem o cheiro do seu perfume, o que eu lembro de fato eram os comentários. É engraçado, ela foi a primeira pessoa que eu me permiti ser vulnerável em anos e anos e tudo que me lembro era de como ela as vezes dizia coisas que caiam sobre mim como sal em feridas. Mas também escrevi poemas pra ela.
Eu te escrevi montes de poemas, e você provavelmente vai morrer sem lê-los. É uma pena, talvez ler eles poderia te convencer que tudo o que eu disse quando terminamos era mentira, que tudo era um plano elaborado de auto-sabotagem. Eu admito isso agora porque isso é uma confissão, seja meu jure, juiz e executor. Eu admito isso porque não faz mais diferença.
Lembro do dia que eu e Ela brigamos, do dia em que eu preferi deixar meu orgulho rasgar todo o meu ser do que pedir desculpas. Cheguei no seu prédio com uma caixa de chocolates e flores, mas não te entreguei pessoalmente, no fundo eu torci pra que isso resolvesse as coisas, no fundo eu torci que isso só piorasse as coisas. No fundo eu nunca queria pedir desculpa, foi culpa minha eu sei. "Você quer ir pra minha casa de campo ?" Cristo como eu odeio o campo e como eu odiei aquela estadia. Meus planos pro feriado eram uma garrafa de whisky e devaneios suicidas mas eu aceitei ir, porque eu amava-a. Porque existe prova maior de amor do que violar a si mesma em troca do que o outro quer ? Porque você insistiu e nenhum momento lá me foi prazeroso.
Eu me pergunto se ela se violaria por mim como eu me violei por ela. Na verdade eu não me pergunto isso, eu sei que não, porque se violar pelo outro não é uma prova de amor. É uma prova de tudo, menos amor. Eu me pergunto na verdade, porque eu me permiti fazer aquilo comigo mesma. Não não posso, na verdade eu preferiria ficar na cidade grande no feriado, não porque eu não te ame mas porque não acho que a viagem vá fazer bem pra mim, era simples assim.
Eu me pergunto se você se violou por mim, se nós pessoas que amamos mais a outrem do que a nós mesmos fazemos isso por instinto, como se pra nós isso fosse algo tão natural quanto se apaixonar. Eu peço desculpas se você o fez. Desde que aquelas palavras sairam da minha boca não tem passado um dia aonde eu não tenha me arrependido, não tem um dia aonde eu não tenha desejado voltar atrás, não tem um dia que eu não me odeie pelo mal que te perpretei.